Precisa fazer a tireoidectomia mas está preocupada com os riscos dessa cirurgia? Entenda quais são as suas chances nesse artigo!
Algumas pacientes deixam de se operar por conta do medo da cirurgia, mesmo quando tem um câncer de tireóide que o tratamento é cirúrgico. Olhando para o passado, a cirurgia da tireóide já foi tão perigosa que diziam ser impossível retirar a tireóide sem matar o paciente. Mas com a evolução das técnicas cirúrgicas e anestésicas, atualmente é uma cirurgia extremamente segura. Para você ter uma idéia, vivemos em um país tão perigoso e violento que o risco de você sofrer um acidente e morrer no caminho do hospital é maior do que o risco de morrer de uma tireoidectomia!
Sempre deixo bem claro quais os riscos e o que pode acontecer após a cirurgia, pois todo procedimento médico tem seus riscos. Apesar de tão baixos quanto 0,0005%, você pode ganhar nessa loteria de azar. Saiba que vou tomar todas as precauções para evitar que isso aconteça e que todas as complicações tem tratamento. A decisão de realizar uma cirurgia é do paciente, pois é ele que vai deitar na maca, ficar inconsciente e ser cortado. Para isso ele deve conhecer os riscos e confiar no cirurgião!
O objetivo desse texto não é te alarmar nem te assustar, mas esclarecer o que pode acontecer. Se a cirurgia foi bem indicada, ele tem que ser realizada pois os benefícios de operar superam os riscos. Para ler mais sobre as indicações da tireoidectomia clique aqui.
Fatores relacionados à complicações
Em toda cirurgia, a chance de qualquer complicação acontecer estão relacionadas a esses fatores:
ao paciente
ao tipo de cirurgia
ao cirurgião
ao hospital
Quanto mais idoso for o paciente e quanto mais doenças associadas ele tem, como diabetes e hipertensão, o risco de qualquer procedimento aumenta. Também quanto mais complexa e maior for a cirurgia, como por exemplo um bócio intratorácico ou um câncer de tireóide invadindo traquéia, maiores são as chances de ter algum problema no pós-operatório. O cirurgião também tem influencia nos índices de complicação. Um cirurgião geral que opera 10 tireóides por ano não tem como ter os mesmos bons resultados que um cirurgião de cabeça e pescoço que opera 50 tireóides por ano. O hospital também é importante, pois toda a equipe deve estar treinada e preparada para intervir prontamente em qualquer complicação pós-operatória e evitar suas sequelas, por isso não é em qualquer hospital que faço minhas cirurgias.
Exemplos para deixar mais claro:
– uma paciente jovem, sem comorbidades, que vai fazer uma tireoidectomia parcial ou mesmo uma total com um cirurgião de cabeça e pescoço experiente em um hospital bom, o risco de dar alguma coisa errada é muito baixo! – um idoso, fumante, hipertenso, com 3 infartos prévios e que usa mais de 5 remédios por dia, que vai fazer uma tireoidectomia total com esvaziamento cervical radical modificado – é um caso de alto risco! Será necessário avaliação de um cardiologista, vaga de Uti, internação mais prolongada…
Principais complicações da tireoidectomia
Sangramento
Hipoparatireoidismo
Lesão do nervo laringeo recorrente
Anestesia
Complicações clínicas
Antes de resumir cada uma das complicações, é importante que você saiba que quase todos os pacientes tem uma recuperação muito boa após a tireoidectomia, recebendo alta hospitalar no primeiro dia após a cirurgia, sem qualquer complicação
Sangramento
Toda cirurgia tem risco de sangrar no pós-operatório. A tireoidectomia é uma cirurgia que envolve a ligadura de artérias e veias de alto fluxo sanguíneo – os pedículos vasculares superiores e inferiores da tireóide. O risco de uma ligadura se soltar e causar um hematoma gira em torno de 0,1% a 1% dos casos e tem risco aumentado com a presença de hipertensão arterial e o uso de anti-agregantes plaquetários como o AAS. O momento do acordar da anestesia têm relação direta com sangramentos pós-operatório – pacientes que acordam muito agitados e movimentando-se bastante, causam aumento da pressão venosa no pescoço e ocorrem sangramentos.
O sangramento após a tireoidectomia é perigoso porque o hematoma se forma bem próximo da traqueia, podendo rapidamente comprimir a passagem do ar e levando a insuficiência respiratória. O principal sintoma é o curativo encharcado de sangue, o inchaço muito importante do pescoço com o desaparecimento das pregas cutâneas, e a falta de ar. Essa complicação costuma aparecer nas primeiras 6 horas após a cirurgia e a intervenção da equipe de enfermagem e plantonistas podem salvar a vida do paciente até o cirurgião chegar no leito. Os pacientes devem fazer repouso e não se levantarem do leito até a manhã do dia seguinte.
Hipoparatireoidismo
Nós temos 4 glândulas paratireóides, duas de cada lado. Essas glândulas produzem o paratormônio, PTH, responsável pelo controle dos níveis de cálcio no sangue. Na tireoidectomia elas devem ser cuidadosamente dissecadas e preservadas para evitar o hipoparatireodismo, complicação mais comum e mais grave da tireoidectomia. A hipocalcemia – queda importante dos níveis de cálcio no sangue, causa uma série de sintomas como cãimbras, dormências, formigamentos, agitação, contrações involuntárias, desmaios, nos primeiros dias após a tireoidectomia. Quanto mais precoce e/ou mais intensos forem os sintomas, mais grave é o hipoparatireoidismo.
Só existe risco de hipoparatireoidismo na tireoidectomia total pois os 2 lados da tireóide são abordados e todas as glândulas estão sob risco, sendo esperado algum grau de hipocalcemia. Por isso, todos os pacientes recebem a prescrição de cálcio para repor nos primeiros dias após a cirurgia e evitar esses sintomas. Caso eles apareçam o paciente deve aumentar a dose de cálcio ou até voltar para a emergência do hospital para repor o cálcio diretamente na veia, dependendo da intensidade dos sintomas.
Quando acontece o hipoparatireoidismo de nitivo, em que todas as glândulas pararam de funcionar e não se recuperaram após a cirurgia, a paciente precisa tomar 8 a 10 comprimidos de cálcio por dia.
Lesão do nervo laringeo recorrente
De cada lado da tireóide passam 2 nervos muito importantes para a fala – o nervo laringeo recorrente e o nervo laringeo superior, inervam os músculos das pregas vocais. Na imensa maioria dos casos esses nervos são preservados e não haverá qualquer alteração da voz. As vezes algum dos nervos terá que ser sacrificado se houver invasão pelo câncer.
A manipulação cirúrgica para soltar a tireóide pode deixar os nervos sem funcionar nos primeiros dias pós operatórias, causando alteração na voz e rouquidão transitória. Quanto maior o nódulo ou bócio, mais manipulado será o nervo, havendo maior chance de paralisia de prega vocal transitória. Se a cirurgia é unilateral, os riscos de rouquidão são bem menores do que quando a exploração é bilateral. Menos de 1% das tireoidectomias evolui com paralisia unilateral de prega vocal de nitiva, e mesmos nesses casos a rouquidão tem tratamento e reabilitação com fonoterapia.
Traqueostomia
Toda tireoidectomia tem risco de precisar de uma traqueostomia. Esse procedimento serve para garantir a respiração quando a passagem do ar foi interrompida por algum motivo. Pode acontecer alguma complicação na intubação ou extubação, como laringoespasmo grave – fechamento das pregas vocais, edema de glote, traqueomalácia… No caso da tireoidectomia total o que pode acontecer é a paralisia bilateral de prega vocal. O risco é muito baixo, mas existe a possibilidade dos 2 nervos laringeo recorrentes – um de cada lado, ficarem sem funcionar logo após a retirada do tubo orotraqueal da anestesia geral. Como as pregas vocais não se movem, a paciente não consegue respirar e pode até morrer sufocada. O cirurgião deve estar a postos para fazer a traqueostomia de urgência.
Se uma traqueostomia foi necessária após a sua tireoidectomia, você não faz idéia do sufoco que escapou. A traqueostomia provavelmente salvou a sua vida e você deve agradecer por estar viva para contar a história.
Anestesia
A cirurgia da tireóide envolve anestesia geral. Existe um mito de que a anestesia geral é perigosa, isso porque no passado realmente era! Mas atualmente o anestesista tem todo o controle dos parâmetros do paciente e está pronto para intervir em qualquer ocorrência.
Em geral, a taxa de mortalidade da anestesia geral é de apenas 1 em cada 100.000 a 200.000 procedimentos, o que significa um risco de morte de 0,0005% a 0,001%, uma verdadeira loteria. Esse risco está bastante ligado ao pacientes e não à anestesia em si. Idosos, fumantes, obesos, usuários de drogas e pessoas com história de alergias ou até mesmo reação anafilática tem risco anestésico aumentado.
Complicações clínicas
Algumas complicações clínicas também podem ocorrer após a cirurgia da tireóide. Para evitar isso é muito importante a avaliação pre-operatória. Como a cirurgia não é de urgência nem as doenças da tireóide crescem muito rápido, é seguro perder algumas semanas realizando exames antes de operar para identi car qualquer problema de saúde conhecido ou não, para aumentar a segurança do procedimento.
Toda a sua história médica deve ser revisada, relatando doenças que teve, cirurgias que fez, internações hospitalares prévias, transfusão de sangue, alergias, pois a maioria das complicações clínicas pós-operatórias tem relação com doenças que o paciente já apresentava no pré-operatório. No pós-operatório, pode por exemplo: acontecer infarto agudo do miocárdio em um paciente com doença coronariana prévia, acontecer uma pneumonia em um paciente asmático, acontecer um tromboembolismo pulmonar em uma paciente com histórico de trombose venosa profunda, infecção urinária em um paciente que não tratou bem uma cistite.
Infelizmente, mesmo tomando todas as providências, as vezes infortúnios acontecem e não temos como prevê-los. É torcer para dar tudo certo e rezar para que não ocorra nenhum problema durante e após a cirurgia.
Sobre o site drtireoide.com
Hoje em dia, com a quantidade de informação disponível na internet fica difícil encontrar conteúdo de qualidade. E esse é exatamente o meu objetivo, levar informação de qualidade a quem precisa. As vezes percebo que não consigo passar para o paciente todo o conhecimento sobre a sua doença ou, devido a ansiedade da consulta, o paciente não capta toda a mensagem. Qualquer dúvida escreva nos comentários. Talvez eu escreva um post ou faça um vídeo sobre o seu problema! Se você quiser marcar uma consulta comigo, clique aqui.
Criei esse site para ajudar meus pacientes a entender melhor o seu tratamento. Percebi que os médicos em geral não tem tanto conhecimento sobre tireóide como o cirurgião de cabeça e pescoço tem. Não é fácil encontrar conteúdo de qualidade voltado para pacientes na internet, pois o dr google já diz que tudo é câncer. Por isso tenho essa missão de compartilhar o que sei para facilitar sua vida! Obrigado!
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